Radiação gama torna quartzo brasileiro mais valioso
Quartzo extraído em São José da Safira (MG), torna-se a gema green-gold depois de ser irradiado com raios gama. [Imagem: Rainer Schultz-Güttler] |
O quartzo, mineral abundante em praticamente todo o território brasileiro, apresenta baixo valor comercial em seu estado bruto.
Quando submetido à irradiação, contudo, atinge um valor agregado médio cerca de 300% maior.
Estima-se que 70% da produção mundial de pedras preciosas tenha passado por tratamentos de beneficiamento.
Durante a irradiação, é gerado
um defeito na estrutura cristalina do mineral, ou seja, na maneira como
os átomos estão organizados na chamada rede atômica.
Esse "defeito benéfico" muda as
propriedades físicas e ópticas do cristal, fazendo com que ele passe a
absorver ou refletir outros comprimentos de onda da luz visível.
O resultado é que um cristal
absolutamente sem-graça passa a ter uma coloração límpida e reluzente,
muito mais valorizado no mercado joalheiro.
Quartzo irradiado
No Brasil, as pesquisas na área são feitas no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN).
Segundo Cyro Teiti Enokihara,
pesquisador do Centro de Tecnologia das Radiações do IPEN, da mina à
vitrine o caminho é longo, mas a tecnologia de irradiação está se
tornando um elemento fundamental no processo de beneficiamento do
quartzo brasileiro.
Os melhores resultados, segundo
Cyro, foram obtidos utilizando fontes de radiação gama, aplicadas em
amostras de quartzo de qualidade gemológica.
As melhores gemas
artificialmente coloridas já obtidas pelos pesquisadores são verde
amareladas, chamadas de green-gold, cor de mel (honey); cinza (fumê);
laranja amarronzado (conhaque); preto (morion) e verde.
Todas essas gemas apresentaram boa qualidade e alta estabilidade, o que as torna valiosas no mercado joalheiro.
Irradiação do quartzo
No IPEN, as pedras de quartzo
são colocadas em dispositivos onde são submetidas à radiação ionizante
proveniente de fontes de cobalto-60. O irradiador foi desenvolvido com
tecnologia nacional, sob a coordenação do professor Paulo Rella.
Mas não se trata unicamente de
colocar um quartzo qualquer no aparelho e esperar "assar uma gema". Tudo
depende da composição química do mineral.
Alguns tipos de quartzo respondem da maneira desejada, com a radiação otimizando ou alterando sua cor, mas outros não.
Testes prévios são realizados
para se detectar quais amostras podem ser submetidas ao tratamento. A
pedra pode conter impurezas como ferro, alumínio, lítio, potássio e
sódio, bem como moléculas de água e radicais hidroxila.
Além das impurezas presentes na
estrutura cristalina do material, deve ser levado em conta também o
ambiente geológico ou o local em que a pedra foi formada.
Sem radiação
O que a radiação faz é promover
um desequilíbrio eletrônico, com os elétrons das camadas mais externas
dos elementos sendo expelidos.
Como a radiação só interfere nos
elétrons, e não no núcleo do atómo, não são gerados radionuclídeos e,
portanto, o quartzo não se torna radioativo.
O tratamento apenas acelera o efeito que a natureza levaria milhares de anos para produzir.
Cyro afirma que parte
considerável das pedras extraídas no Brasil é enviada ao exterior, em
estado bruto, para países como Alemanha, Tailândia e China, onde passam
por um processo de beneficiamento e de lapidação, e posteriormente
retornam ao país em forma de joias, gerando enormes perdas econômicas
para o país.
O IPEN mantém contatos
permanentes com empresas de comercialização de pedras preciosas, com o
intuito de realizar testes de irradiação para os quartzos de diferentes
procedências e efetuar pesquisas para outros novos minerais.
Fonte: www.inovacaotecnologica.com.br
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