Uma mina de diamantes no Sertão da Bahia
Postado 20/05/2013
Na pequena Nordestina, de apenas 12,4
mil habitantes, encravada no meio do sertão baiano, a mineradora belga
Lipari se prepara para iniciar a exploração da primeira mina de
diamantes extraídos diretamente da rocha (fonte primária do mineral) na
América Latina.
A companhia, comandada pelo geólogo
canadense Kenneth Johnson, já aplicou R$ 60 milhões na unidade e planeja
aplicar mais R$ 30 milhões ao longo deste ano para acelerar as
pesquisas e iniciar a comercialização do minério já no fim de 2014. O
dinheiro que financiou toda essa operação saiu dos controladores da
Lipari – a companhia Aftergut & Zonen, da Bélgica, e o fundo
Favourite Company, de Hong Kong.
Ainda em fase de pesquisas, o geólogo
que coordena o trabalho da Lipari no sertão baiano, Christian
Schobbenhaus, afirmou ao Estado que estima em pouco mais de 2 milhões de
quilates de diamante a capacidade total das minas em Nordestina, que
fazem parte do projeto Braúna. Um quilate de diamante de rocha
kimberlítica é negociado, hoje, a cerca de US$ 310.
O kimberlito é uma rocha rara, que forma
o manto da terra. Chega à superfície após uma erupção vulcânica. Foi
nessas explosões, ocorridas há bilhões de anos, que o kimberlito trouxe
para próximo da superfície terrestre os diamantes.
Desde então, por meio da erosão natural
do solo, os diamantes podem se soltar e chegar até aluviões de rios,
onde são encontrados na maior parte das vezes.
Produção atual - O Brasil, até agora,
tem "produzido" diamantes dessa forma, tendo produção anual de 47 mil
quilates, estimada pelo Departamento Nacional de Produção Mineral
(DNPM), cerca de 0,04% de todo o diamante explorado no mundo. Agora,
apenas a produção de Nordestina deve multiplicar por cinco a oferta
nacional de diamantes, aumentando também o valor do minério, uma vez que
não é oriundo de aluviões, mas de fonte primária – da própria rocha.
Há apenas 20 minas de kimberlito em
atividade no mundo. O grupo de países do qual o Brasil vai fazer parte é
pequeno: as minas estão no Canadá, em países no sudoeste africano e na
Rússia. O bloco de rocha kimberlítica no qual está a pequena Nordestina
pertence ao cráton (bloco de rocha com mais de 1 bilhão de anos) do São
Francisco, que ficava junto ao cráton do Congo, na África, antes da
separação dos blocos em continentes.
Profundidade - Em Nordestina, o diamante
está a cerca de 3 quilômetros da superfície, e a pesquisa total da área
só deve ser concluída no fim do ano. Dada a complexidade da operação –
as máquinas que tiram os diamantes das rochas são importadas da África
do Sul e operadas por técnicos qualificados em mineração de diamantes –,
a comercialização do minério de Nordestina só deve começar no último
trimestre do ano que vem, ganhando força a partir de 2015. A Lipari
estima em sete anos a vida útil da mina na cidade.
Praticamente todo o diamante de
Nordestina será exportado para Dubai, Bélgica, Israel e Canadá, onde o
comércio do minério é concentrado e tradicional. Assim, a companhia
aposta que, até 2015, quando a produção estará a todo vapor, a
recuperação da economia mundial terá ficado mais consistente e, com
isso, os preços do diamante devem aumentar, puxados por uma demanda mais
firme.
"Para um geólogo, esta é uma
oportunidade inacreditável. Estamos trabalhando na primeira mina de
diamante oriundo diretamente do kimberlito de toda a história da América
Latina", disse Schobbenhaus, que mora em Nordestina desde 2010, quando
as pesquisas se intensificaram.
O governo da Bahia deve licenciar a
produção ainda neste ano, e o pedido de lavra feito pela Lipari ao DNPM
também deve ser concedido. Segundo o diretor de fiscalização do
departamento, Walter Lins Arcoverde, a mina da Lipari é "a confirmação
de que o Brasil tem, de fato, a primeira mina de diamante oriundo de
kimberlito na América Latina, e o segundo em todo o continente, atrás
apenas do Canadá, que é um dos maiores produtores do mundo". Até este
ano, apenas Brasil, Guiana e Venezuela produziam diamantes na região,
mas todos os minérios eram de fontes secundárias, isto é, de aluviões de
rios.